A Sensibilidade do Caixa ao Fluxo de Caixa nas Companhias Abertas Brasileiras: Uma Análise do Período Pré e Pós-Crise de 2008

Lilian Marques Nagem Byrro, Aureliano Angel Bressan

Resumo


OBJETIVO
O objetivo do trabalho é testar a hipótese de que a ocorrência de um aumento na oferta de crédito à pessoa jurídica tem como impacto uma diminuição da restrição financeira das empresas analisadas de forma geral, o que, de acordo com o modelo de Almeida et al. (2004), levaria a uma diminuição na sensibilidade do caixa ao fluxo de caixa.

METODOLOGIA
A metodologia consiste na aplicação do modelo de Almeida et al. (2004), porém, do ponto de vista agregado e baseando a divisão dos grupos restritos e irrestritos em dados de oferta de crédito no país nos últimos anos, mais especificamente, o aumento do crédito à pessoa jurídica a partir de 2008. Essa forma de divisão garante a utilização de um critério exógeno para a determinação da restrição financeira.

RESULTADOS E CONCLUSÕES
Os resultados encontrados confirmam a hipótese levantada e indicam uma sensibilidade do caixa ao fluxo de caixa no período de restrição financeira e uma insensibilidade após o aumento da oferta de crédito. Os testes de robustez indicam que tanto o crescimento econômico quanto os impactos imediatos da crise norte-americana não causaram mudanças significativas nos coeficientes. Os resultados reforçam a ideia de que fatores macroeconômicos interferem diretamente na sensibilidade do caixa ao fluxo de caixa das empresas.

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
Os resultados encontrados reforçam a importância do desenvolvimento do mercado de capitais para a gestão das empresas, demonstrando o impacto de ações governamentais no nível de restrição financeira corporativa. Além disso, reafirma o modelo desenvolvido por Almeida et al. (2004) que considera que empresas com restrição financeira tenderão a poupar mais quando tiverem um fluxo de caixa propício.

PALAVRAS-CHAVE
Gestão de caixa. Sensibilidade do caixa ao fluxo de caixa, restrição financeira.


THE CASH FLOW SENSITIVITY OF CASH IN BRAZILIAN PUBLIC COMPANIES: AN ANALYSIS OF THE PERIOD PRE AND POST THE 2008 CRISIS

OBJECTIVE
This work's objective is to test the hypothesis that the occurrence of the increase in the credit offering to an organization will have as an impact a decrease of the financial restriction of companies analyzed in general, which, according to the model of Almeida et al. (2004) would lead to a decrease in the cash flow sensitivity of cash.

METHODOLOGY
The methodology consists of the application of the model of Almeida et al. (2004), however, from the aggregate standpoint and basing the division of the restricted and the unrestricted groups on data of credit offering in the country over the past few years, specifically, the increase of credit to organizations as of 2008. This form of division guarantees the utilization of an exogenous criterion to determine the financial restriction.

RESULTS AND CONCLUSIONS
The results found confirm the mentioned hypothesis and indicate a cash flow sensitivity of cash in the period of financial restriction and insensitivity after the increase in credit offer. The tests for robustness indicate that both the economic growth and the immediate impact of the North-American crisis didn't cause significant changes to the coefficients. The results reinforce the idea that macroeconomic factors interfere directly in the sensitivity of cash to companies' cash flow.

PRACTICAL IMPLICATIONS
The results found reinforce the importance of the development of the capital market for the management of companies, demonstrating the impact of governmental actions in the level of corporate financial restriction. Furthermore, they reaffirm the model developed by Almeida et al. (2004) which considers that companies with financial restriction will likely save more when they have an appropriate cash flow.

KEYWORDS
Cash management. Cash flow sensitivity of cash, financial restriction.

Referências


Acharya, V., Almeida, H. & Campello, M. (2007, Outubro). Is cash negative debt? A hedging perspective on corporate financial policies. Journal of Financial Intermediation, 16(4), 515-554.

Aldrighi, D. M. & Bisinha, R. (2010, janeiro). Restrição Financeira em Empresas com Ações Negociadas na Bovespa. Revista Brasileira de Economia, 64(1), 25-47.

Allayannis, G. & Mozumdar, A. (2004, maio). The impact of negative cash flow and influential observations on investment–cash flow sensitivity estimates. Journal of Banking & Finance, 28(5), 901-930.

Almeida, H. & Campello, M. (2007, abril). Financial Constraints, Asset Tangibility, and Corporate Investment. Review of Financial Studies, 20(5), 1429-1460.

Almeida, H., Campello, M. & Weisbach, M.S. (2004, Agosto). The cash flow sensitivity of cash. Journal of Finance, 59(4), 1777-1804.

Alti, A. (2003, Abril). How sensitive is investment to cash flow when financing is frictionless? Journal of Finance, 58(2), 707-722.

Annibal, C., Lundberg, E. & Koyama, S.M. (2009). Crise de 2008 e Mudanças no Mercado de Crédito. Banco Central do Brasil, Relatório de Economia Bancária e Crédito, 37-52.

Banco Central do Brasil. (2006). Relatório de Economia Bancária e Crédito.

Banco Central do Brasil. (2009). Relatório de Economia Bancária e Crédito.

Banco Central do Brasil. (2011). Relatório de Economia Bancária e Crédito.

Baum, C. F., Schäfer, D. & Talavera, O. (2009). The Impact of Financial Structure on Firm´s Financial Constraints: A Cross-Country Analysis. Recuperado em 11/11/2012, de http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1431344.

Baumol, William J. (1952). The Transactions Demand for Cash: An Inventory Theoretic Approach. Quarterly Journal of Economics, 66 (4), 545–556.

Bernanke, B., Gertler, M. & Gilchrist, S. (1996, Fevereiro). The Financial accelerator and the flight to quality. Review of Economicatistics, 78(1), 1-15.

Borça, G., Jr. & Coutinho, L. (2010, Agosto). Crédito à pessoa física responde por 27% do crescimento da economia entre 2004 e 2009. Visão do Desenvolvimento BNDES, (84).

Campello, M.(2003). Capital structure and product markets interactions: Evidence from busi- ness cycles. Journal of Financial Economics, 68, 353–378.

Choi, I. (2001). Unit root tests for panel data. Journal of International Money and Finance, 20, 249–272.

Cleary, S. (1999, Abril). The Relationship between Firm Investment and Financial Status. The Journal of Finance, 54(2), 673-692.

Cleary, S., Povel, P. & Raith, M. (2007). The U-Shaped Investment Curve: Theory and Evidence. Journal of Financial and Quantitative Analysis, 42(1), 1-40.

Costa, C. M. & Paz, L. S. (2004). Are Brazilian Firms Savings Sensitive to Cash Windfalls? Anais do Encontro da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (ANPEC), João Pessoa, PA, Brasil, 32.

Fazzari, S.R., Hubbard, G. & Petersen, B. (1988). Financing constraints and corporate investment. Brooking Papers on Economic Activity, 1, 141- 195.

Gertler, M. & Gilchrist, S. (1994, março). Monetary Policy, Business Cycles, and the Behavior of Small Manufacturing Firms. The Quarterly Journal of Economics, 109(2), 309-340.

Ghani, A. N. A. (2011). Impacto dos Períodos Macroeconômicos sobre a Sensibilidade do Investimento ao Fluxo de Caixa nas Empresas Brasileiras e Argentinas. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.

Gomes, J. F. (2001, dezembro).Financing Investment. The American Economic Review, 91(5), 1263-1285.

Inhudes, A. & Borça, G., Jr. (2010, Fevereiro). Mercado doméstico impulsiona a retomada do investimento. Visão do Desenvolvimento BNDES, (78).

Iquiapaza, R.A. & Amaral, H.F. (2008, Julho). Restrições de Financiamento e Política de Gestão de Caixa nas Empresas Listadas na Bovespa. RIC - Revista de Informação Contábil, 2(3), 77-89.

Jensen, M. (1986). Agency costs of free cash flow, corporate finance, and takeovers. American Economic Review, 76, 323-29.

Jensen, M.C. & Meckling, W.H. (1976). Theory of the firm: managerial behavior, agency cost and ownership structure. Journal of Financial Economics, 3, 305-360.

Kadapakkam, P., Kumar, P. C. & Riddick, L. A. (1998). The impact of cash flows and firm size on investment: the international evidence. Journal of Banking & Finance, 22, 293-320.

Kaplan, S.N. & Zingales, L. (1997, Fevereiro). Do financing constraints explain why investment is correlated with cash flow? Quarterly Journal of Economics, (151), 169-215.

Kashyap, A. & Stein, J. (2000). What do a million observations on banks say about the transmission of monetary policy?. American Economic Review, 90, 407–428.

Keynes, J.M. (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Londres: McMillan.

Khurana, I. K., Martin, X. & Pereira, R. (2009, dezembro). Financial Development and the Cash Flow Sensitivity of Cash. Journal of Financial and Quantitative Analysis, 41(4), 787-807.

Kim, C. S., Mauer, D. C. & Sherman, A. E. (1998). The determinants of corporate liquidity: theory and evidence. Journal of Financial and Quantitative Analysis, 33(3), 335-359.

Martins, B.S. (2010). Crise Financeira e Restrição de Crédito no Brasil: Evidências com Base no Custo do Financiamento Bancário. Banco Central do Brasil, Relatório de Economia Bancária e Crédito, 69-87.

Miller, M. & Orr, D. (1996). A model of the demand for money by firms. Quarterly Journal of Economics, 77, 413-435.

Modigliani, F. & Miller, M.H. (1958, Junho). The Cost of Capital, Corporation Finance and the Theory of Investment. The American Economic Review, 48(3), 261-297.

Myers, S. Majluf, N. (1984, Junho). Corporate Financing and Investment Decisions When Firms Have Information That Investor Do Not Have. Journal of Financial Economics, 13(2), 187-221.

Opler, T., Pinkowitz, L., Stulz, R. & Williamson, R. (1999). The determinants and implications of corporate cash holdings. Journal of Financial Economics, 52, 3-46.

Puga, F.P. (2010, Maio). Investimentos em perspectiva já são superiores a valores pré-crise. Visão do Desenvolvimento BNDES, (81).

Puga, F. & Borça, G., Jr. (2011, Julho). O papel anticíclico do BNDES e sua contribuição para conter a demanda agre. Visão do Desenvolvimento BNDES, (96).

Riddick, L. A. & Whited, T. M. (2009, Agosto). The Corporate Propensity to Save. The Journal of Finance, 64(4), 1729-1766.

Ross, S.A. (1977). The Determination of Financial Structure: The Incentive-Signalling Approach. The Bell Journal of Economics, 8(1), 23-40.

Sant’anna, A.A., Borça, G., Jr. & Araújo, P.Q. (2009, Junho). Mercado de Crédito no Brasil: Evolução Recente e o Papel do BNDES (2004-2008). Revista do BNDES, 16(31), 41-60.

Shleifer, A. & Vishny, R. (1997, Junho). A Survey of Corporate Governance. The Journal of Finance, 52(2), 737-783.

Stigliz, J.E. & Weiss, A. (1981, Junho). Credit rationing in market with imperfect information. The American Economic Review, 71(3), 393-410.

Torres Filho, E.T. (2006, Junho). Nível do crédito bancário é o mais alto desde 1995. Visão do Desenvolvimento BNDES, (2).

Zani, J. & Procianoy, J. L. (2005). Restrição Financeira e a Política Financeira da Firma: A Variação na Estocagem de Liquidez Determinada pelo Status Financeiro e pela sua Geração de Caixa Operacional. Anais do Encontro da Sociedade Brasileira de Finanças (SBFIN), São Paulo, SP, Brasil, 5.


Texto completo: PDF

Apontamentos

  • Não há apontamentos.




Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 .

_______________

Revista de Finanças Aplicadas

ISSN: 2176-8854

Contador Estatístico

Indexadores e diretórios

DOI Logotipo Gale Cengage Learning DOAJ

Adicionais
Gale Cengage Learning
Latindex - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal
Livre - Revistas de Livre Acesso
Sumários - Sumários de Revistas Brasileiras
PKP - Public Knowledge Project